quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Balanço de férias

Voltar ao Recife é sempre um reencontro/confrontação com meu presente e, principalmente, com o meu passado. De uma forma ou de outra é sempre bom o reencontro com a família, mas o que sinto a cada visita é que a minha alma vai se desprendendo daquela terra como se eu não me identificasse com o lugar onde nasci. O que não significa que esteja virando um carioca de segunda classe. Moro aqui, meus filhos e minha mulher são cariocas mas me sinto um cidadão permenentemente em trânsito.

O que acontece é que a cada visita sinto minha linda cidade natal cada vez mais desfigurada e, para não sofrer vendo o estado lastimável dos prédios da Guararapes e Conde da Boa Vista, prefiro acreditar que sou um turista que nada tem a ver com aquele abandono que as sucessivas administrações nos legaram. Assim como nada tenho a ver com Dona Lindu. aquele mostrengo criado em Piedade, à revelia da população. Um monumento ao puxasaquismo que só menospreza os homenageados.

Por isso vesti minha alma de turista e preferi curtir o maravilhoso calçadão de Boa Viagem, á agua de Porto de Galinha, a vista da Enseada dos Corais. Tudo o que me faz esquecer que Cajueiro é a "treva" e sair ou chegar lá é uma aventura desgastante e sinistra. Alí, só imitando a Angélica e ir de taxi. Que, aliás, demora paca a chegar.
Por Recife, desfiei meu Rosário de lembranças agradáveis e visitei a pracinha alegremente alternativa da Carmo. Peguei uma marola em Olinda com gente que posso ficar sem ver a vida inteira mas que é como se tivesse visto ontem. Aliás, o que seria de mim em Recife sem minhas amigas de intensidade variada? Como eu poderia ter ido embora de Recife sem conhecer aquela turma animada que transforma a paz em objetivo único. Se eu vivesse lá, eu certamente gostaria de ser um deles. Por mais que tenha ficado calado, sorri o tempo inteiro.
Já no Catamarã......

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Gostos e desgostos

Ao entrar de férias descubro que estou vivendo fora do mundo real . Afinal, nunca vi um filme dos neo-vampiros e sempre fico boiando quando alguém começa a falar sobre qualidades dos personagens de uma história que, francamente, não me interessa. Já me bastam os vampiros que me cercam cotidianamente na rua ou no trabalho.
Também não acompanho séries de televisão, o que me exclui de outro grupo. Seriado pra mim era o do zorro ou do batman, o que já uma prova de antiguidade. Afinal, não suporto o batman dark criado pelo tim burton e que se tornou marca oficial. Gosto daquela turma escrachada do comissário Gordon e do Sargento Ohara, além da mais exótica fauna de vilões que a ficção já produziu.

Detesto conversas sobre o pré-sal. A muito custo, consegui ler uma matéria didática sobre o assunto só pra não fazer cara de idiota quando o assunto entra na pauta.
Odeio filme iraniano, israelense ou qualquer coisa tachada de genial pelos nossos críticos que se especializaram em traduzir e copiar opiniões dos malas estrangeiros. Também abomino filme brasileiro metido a inteligente onde a chatura é o enredo principal. Quando vejo o andrógino bonequinho do globo aplaudindo de pé, tenho vontade de arrastar a cadeira para que ele caia quando tentar sentar. No bom sentido, é claro.
Que posso fazer se adoro chanchadas da Atlântida(filmes nacionais da década de 60) musicais americanos do bom tempo do escapismo, filmes de cowboys com bastante tiro onde o índio é sempre vilão.
Sou politicamente incorreto. Acho o PT um partido fascista apesar de achar Lula uma figuraça que está sabendo curtir a presidência com todas as suas vantagens. E parafraseando minha irmã Dena: detesto todas as minorias que vivem de levar vantagem sobre a maioria. E quero distância de flamenguistas quando estão exercendo o seu desvario.
Antes que os meus escassos leitores achem que não gosto de nada. Gosto de sol. E espero que ele brilhe para todos. Principalmente para as pessoas que fazem parte do meu mundo afetivo. Acho que isso é suficiente. Por enquanto.

domingo, 15 de novembro de 2009

Blogueiro sem vergonha

Foi preciso que a Mariana me contasse que havia escrito sobre o texto que eu tinha feito do casamento dela com o João Henrique pra que me desse conta de que ainda tinha um blog. E algumas pessoas dispostas a lê-lo. Na verdade, esse negócio de blogg dá muito trabalho. A Verônica, por exemplo, é tão craque nessa atividade que costumo defini-la como uma mulher de cabeça, tronco e blog. Blogueiro que se dá ao respeito tem muitos seguidores, e eu só tenho uns gatos pingados( todos da melhor qualidade, ressalto) que certamente até desistem de procurar textos novos tal o intervalo que coloco entre uns e outros.
Mas prometo não sumir da raia. Afinal graças ao blog é que posso descobrir que a Ana Luíza se emociona com o que escrevo. Talvez para compensar às vezes em que a irrito quanto falo. E de uma certa forma, compenso a ausência de pessoas queridas que se tornaram mais frequentes como a Neli, a Rosário e a Marisa.
Como um Dom Pedro sem barba, sem cavalo e sem coroa é que lanço meu brado blogueiro: digo ao povo que fico. Acredite quem quiser. Eu, por enquanto, estou acreditando.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Dançando com o coração

Ainda bem que uma das madrinhas do lado do altar também chorou. Só assim eu não me senti o maior bestalhão do universo por estar com cara de pastel enquanto todos sorriam. Afinal, era mais do que um casamento de João e Mariana. Era a continuação de uma festa para todos nós que começou quando eles se conheceram. E como valeu a pena. Ver Beto,Dena, Neli, Helena,Ivanildo, Tuca, Guilherme, Pedroca e Fernanda tão próximos, embora vivam mais longe do que deveriam. Ver o Paulinho e a Bel trocarem uma data histórica por uma festa nossa que acabou também sendo deles.
E depois ver tanta gente querida que estava lá por causa do João, por causa da Mariana, por causa dos dois, por causa da gente.
Aquele sábado foi um dos daqueles dias que quando acaba a gente fica com gosto de quero mais. Ver minha mulher iluminada e feliz e a Ana Luiza alegrita(alegre e bonita) me deixou com a certeza de que aquele foi um dos momentos que justificam qualquer momento de chateação incompreendida ou incompreenão chateada que a gente vai encarando pelos tempos.
Não dancei na festa. Não gostava antes não vou gostar depois, mas quem estava lá pode ter certeza que mesmo parado no meu canto, eu estava mergulhado na festa. Estava dançando com o coração. Com todas as batidas e ritmos possíveis.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Desinventando a vida

Acho que todo mundo, em qualquer lugar do mundo, já teve a sensação de estar nadando contra uma onda que não acaba nunca. Quanto mais força você faz mas fica a impressão de que está no mesmo lugar. E vem a sensação de cansaço que não é físico. E como se seu espírito, alma, ou coisa que o valha estivesse prestes a jogar a toalha. Apesar de tantos anos de vida sinto como se não tivesse caminhado tanto o que se torna um contrasenso para quem se diz cansado. Ou seja, tou além da velocidade: parado.
Nesses momentos, eu que sempre me considerei onipotente, convivo com o sentimento de fracasso por não conseguir ver feliz algumas pessoas que amo. E como se a dor delas fosse uma responsabilidade minha. Mas como ajudar alguém a ser feliz se eu mesmo não estou me sentindo capaz de virar o jogo?
Se me canso espiritualmente com o convívio de companheiros de trabalho que fazem da mediocridade o norte das suas vidas. E que faço eu metido num lugar onde a máxima é tirar o máximo de quem tem o mínimo ? Não estou falando da Receita Federal e sim de um lugar onde o nome de Deus está em todas as bocas, da boca pra fora. E se a volta pra casa não se torna o repouso do guerreiro mas a nau dos insensatos, tudo o que faz você deseja é que ela vire de uma vez pra que você caia fora. Seja pra que lado for.Diante de tudo isso dá uma vontade imensa de chutar o balde, mesmo que a água caia sobre a minha cabeça. Acho que estou perdendo a capacidade de inventar o que coloca em sério risco o personagem que inventei e que carrego comigo ao longo da vida.

"Estive doente
doente dos olhos, doente da boca,dos nervos até,
dos olhos que viram mulheres formosas
da boca que disse poemas em brasa
dos nervos manchados de fumo e café
Estive doente
estou em repouso, não posso escrever
eu quero um punhado de estrelas maduras
eu quero a doçura do verbo viver."

"De um louco anônimo"

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Teje preso, teje solto

No mês mês passdo, o covarde assassinato de Sandra Gomide completou nove anos. O criminoso, Pimenta Neves, continua solto por aí, curtindo a vida ao lado de outra mulher que deve achar que a Sandra deve ter feito algo para merecer um tiro pelas costas. Essa, pelo menos, não pode alegar surpresa se levar também um tiro do bandido. Talvez para comemorar tão triste data, o Supremo acaba de colocar Gil Rugai, aquele que matou o pai e a madrasta em liberdade. E como já fez com tantos criminosos como Guilherme de Pádua e Paula Thomás, assassinos da Daniela Peres, certamente vai colocar mais gente desse tipo na rua, convivendo com você no cinema, no shopping, nas ruas. Até o próximo tiro. Diante dessa benevolência da justiça brasileiroa não é difícil de adivinhar que o safado do médico famoso que violentou tantas pacientes esteja breve, de volta à clínica, pronto para continuar a praticar seus crimes que mancharam a classe médica brasileira.
Se fosse o Mercadante poderia colocar minha opinião no mercado e ver se algum Renan da vida pagaria por ela. Mas não dá. Diante desse quadro de impunidade total em todos os campos, só posso sugerir; soltem todos eles, mas antes me botem em cana que é preu não correr risco de vida.

domingo, 16 de agosto de 2009

O filho blódigo

Todo dia eu acordo pensando que vou voltar a escrever no meu blog. Afinal é uma das formas de manter contato com pessoas que me são tão queridas. Só que do pensamento à ação existe uma atividade profissional que nessa altura do campeonato deveria ser bem menor. Afinal, acordar às quatro e meia da manhã, sair para Inhaúma(quem te conhece não te esquece), voltar no final da tarde, dar um oi para o cachorro, levar a mulher pra dar uma volta(epaaa, é o contrário) e retornar ao trabalho agora na agência de notícias esportivas. E ainda guardar um tempo para acompanhar a briga de dois safados(edir macedo x família marinho) numa batalha onde não existem heróis. Só vilões. Ou seja, dormindo quatro a cinco horas por noite e trabalhando 14 horas, vou jogando o blog pra amanhã, pra amanhã.
Bem, o amanhã agora é hoje. Domingo de um incrível céu azul, 20 graus, a caminhada na orla e uma sessão de sol me espera, mas eu agora resolvi dar uma de macho e anunciar: atenção: o meu filho blódigo voltou à vida. Vou retomar prometo porque as coisas estão acontecendo e tem muito palpite pra ser dado. Na vida dos outros, principalmente. Estamos de volta. Apareça quem puder.

sábado, 18 de julho de 2009

Coração enchuvarado

Eu também fui ao show do Roberto Carlos no Maracanã. Foi uma chuva de emoções de onde saí molhado externa e internamente.É claro que todo mundo conhecia tudo e tinha alguma história vinculada ao passado musical do Rei. Mesmo porque assim como aconteceu com Chico Buarque, Caetano e Gil,a inspiração de RC parou nos anos oitenta. Parece que o final da ditadura reduziu a capacidade de produzir genialiadades dos nossos ícones, mas a produção dessa turma no passado já é suficiente para alimentar o futuro de forma infinita.
Voltando ao show do Maraca foi impossível não ouvir algumas músicas e não me lembrar do Recife, principalmente da Encruzilhada. E do programa Jovem Guarda que ia ao ar, em vídeo(que coisa antiga!) no mesmo dia em que participei da minha última quadrilha antes de trocar minha cidade por Brasília. Foi um mês de ensaios onde eu tive a bela Tuca como par mas, mísero estudante, descobri que ela tinha olhos postos no futuro. Acabou casando com um engenheiro que dançava, salvo engano, com uma das minhas irmãs.
Ah, mais como era bom a gente sair do programa e se encontrar na frente da casa da Rosário para conversar e dançar, ensaiar paqueras que quase nunca iam adiante. Tudo isso veio a minha cabeça quando a gente cantava no Maracanã as velhas canções que acompanharam as nossas vidas. E também lembrei do dia que tomamos um esporro gigante da dona Mariinha, mãe de Carmem, porque estávamos cantando Quero que vá tudo para o inferno, depois de uma chuvarada que alagou metade do Recife. Segundo ela, aquela música atraía coisa ruim. Hoje até aquela lembrança é boa.
As músicas do Roberto Carlos são detalhes quase que perfeitos na vida da minha geração. E naquela noite do Maracanã, revivendo emoções, percebo que a minha vida, apesar dos tropeços, tem sido legal e se chotei ou se sorri, o importante é que emoções eu continuo vivendo.

domingo, 5 de julho de 2009

Uma conversa de amor


Hoje resolvi colar um texto da Verônica publicado no site criative-se que ela toca com algumas amigas. Como tem tudo a ver com minha vida e minhas emoções resolvi dividir com as pessoas que me acompanham. É um texto que fala do amor de mãe, mas que poderia ser de amor de pai, de amor...Carlos
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Sexta-feira, 3 de Julho de 2009
Sobre casamento, ausência e amor de mãe

A palavra casamento é razão de ser de muitos dos blogs que vejo à minha direita, na lista de seguidores do Criative-se. São blogs que contam a história de quem vai casar, de quem já casou, de quem faz festa para quem vai casar, de quem expõe fotos de quem já casou. O próprio Criative-se já contou as histórias de amor – e casamento também – de várias pessoas.

Pois rendo-me ao tema para contar: meu filho vai casar! De papel passado, com direito à igreja, fraque e festa. E ainda vou cruzar, de mãos dadas com ele, todo o trajeto que o levará ao altar e ao encontro daquela que já é sua mulher desde o dia em que eles se escolheram, mas especialmente há quase dois anos, tempo em que vivem juntos.

Eles são muito felizes, se amam e estão curtindo, com pouca grana e muito entusiasmo, todos os milhares de preparativos que giram em torno do evento. Em alguns deles, estou pessoalmente envolvida – e as demais Criativas também - ajudando, sugerindo, escolhendo cores e detalhes. Mas, realmente, o que me dá mais prazer em tudo isso é poder olhar de fora o bem que é vê-lo assim...amando sua mulher e construindo com ela algo cujos pilares foram cimentados também na vida que experimentamos enquanto cabia a mim e ao pai a tarefa de fazê-lo mais que o garotinho de cabelos encaracolados, que foi e será sempre o meu menino sabido, o meu afeto mais puro. (Ei...Ana Luiza, esse post é para o João e meu amor por você é igual. Não sinta ciúmes. Ainda vou escrever para você!!!)

Primeiro filho nos faz viver as sensações mais incríveis, o prazer mais intenso, a dor mais aguda. É viver um novo para o qual não houve aprendizado. É conhecimento, susto, intensidade, alegria, cansaço, medo, certeza, paixão, choro e sorriso no rosto. Fui muito feliz com meu filho e algumas de suas tristezas me fizeram também mergulhar no poço mais escuro e intransponível. Todas as vezes em que chorou, fez lágrimas em meu coração, impondo-me a revelação de que, ao contrário do que gostaria de ter sido sempre, não consegui a tão sonhada onipotência para não fazê-lo sofrer.

Sim, sei que somos todos forjados na dor, que é ela que nos fortalece e ensina. Mas qual mãe quer ver a dor do filho, ainda que seja só e unicamente o caminho que leva ao bem e ao prazer. Nessas horas, minha sabedoria sempre esteve ao rés do chão. Só queria o bem, só quero o bem, só quero consertar tudo e proteger. Mas nem sempre foi assim e quando não foi, me possibilitou ainda conhecer e viver intensamente a compaixão. Hoje, quando tantas vezes procuro a compaixão, reconhecendo-me na dor do outro para ser capaz de ajudar, percebo que experimentei e aprendi através do amor por meus filhos.

Outro dia, em meio aos preparativos do casamento, me lembrei do sentimento tão doído que vivi quando ele saiu de casa e foi viver com Mariana. Foram longos dias de uma ausência tão intensa, sentida como se um espaço vazio me tivesse feito refém. Naquele período vivi as mais estranhas sensações; do abandono – sim, mães independentes, inteligentes, profissionais e bem preparadas também se sentem assim – à melancolia; da solidão à noção de que, também ao contrário do que imaginava e previa, a ideia da finitude começava a se desenhar na minha frente. A imortalidade highlander que delirantemente pensava para mim, desfez-se. Senti a escala do tempo, a força cronológica dos anos a me revelar: “Ei, cara, acorda...seu filho mais velho já até saiu de casa e isso, inevitavelmente, veio também para te revelar que o tempo disparou e que esse relógio é tão ingrato quanto incontrolável”.

Senti falta das coisas do cotidiano, da chave na porta, do som da televisão no quarto. Senti falta da presença, do beijo diário e até mesmo da ausência que nos era comum, da porta do quarto fechada, que tanto indicava que ele ali estava, como revelava os horários loucos da Residência em Pediatria, plantões, saídas e afins.

Mas da mesma forma que me senti tomada por esse sentimento de ausência do filho em minha vida, um dia tudo passou. E ficou aquilo que realmente importa e que expressa o que, olhando de fora, sou capaz de ver diante dos poucos meses que nos separam do dia do casamento.

Como é bom vê-lo grande, homem, do bem, ideologicamente intenso. Filho querido e a quem amo tanto...só te quero feliz. Vê-lo feliz sempre e pra sempre fará diferença na minha vida.

Aos leitores do Criative-se, peço compreensão para uma crônica absolutamente pessoal. Até a próxima sexta!!

domingo, 28 de junho de 2009

Eles estão entre nós

Sempre acho meio estranho quando alguém critica os políticos como se a gente não tivesse nada com isso. Como se os Sarneys, Zédirceus, Renans, Garotinhos e cia, tivessem vindo de outro planeta para ocupar senados,câmaras e outros redutos do poder em nosso país. Eles são gente como a gente embora parte da gente nada a tenha a ver com eles. Essa turma é produto da nossa sociedade. Eles são vizinhos de alguém e este alguém um dia votou neles para vereador. Talvez pensando numa retribuição ou, quem sabe, com boa intenção. Esse vereador foi galgando posições e se transforma em isso que a gente vê refletida nas páginas dos jornais e nos noticiários da tevê.
Assim como nossos representantes da justiça(?), eles são produto da sociedade em que vivemos. Acho que o Brasil tem melhorado muito nos últimos anos em relação à ética e às cobranças sobre o comportamento dos parlamentares, mas vai ser preciso muito tempo para que se mude a cultura do povo.
Quando vejo meninos/as de 15/16 anos, cujos pais pagam mil pratas de mensalidade no Colégio Franco/Brasileiro, roubando chocolates nas Lojas Americanas como se fosse uma grande diversão, eu sempre penso que aquela garotada tem todo o potencial para se transformar num político ladrão ou num juiz desonesto. Tudo começa numa brincadeira na prateleira e acaba nos bolsos dos contribuintes. São nossos vizinhos, nossos parentes, talvez, gente que a gente conhece começando a trilhar o caminho que a gente bem sabe onde vai levar.

domingo, 14 de junho de 2009

O som da volta

Poucas coisas têm me dado mais prazer nesta vida do que ouvir o barulho da chave na porta. Sei que este é um sentimento que deve ser compartilhado por milhares de pessoas que passam a vida esperando que alguém volte. Em todos os sentidos. E para quem tem filhos, ouvir este som é a melhor resposta que se pode ter para todas as dúvidas e inquietações que passam pela cabeça da gente neste desvairado mundo que a gente.
Eu sempre me acostumei a regular meu sono pela atividade noturnas dos meus filhos. Quando o celular não era um bem tão comum quanto relógio de pulso, costumava sair de casa às duas da madrugada no Leblon para tomar café no Fran em companhia de outros perdidos na noite enquanto João Henrique não chegava. Ou então, entrava no mercado 24 horas e ficava passeando entre prateleiras e olhando globais que faziam compras naquele horário para fugir da patuléia. E descobri que existiam outros tipos exóticos como eu certamente parecia aos olhos do porteiro do meu prédio.
Agora não moro mais no Leblon, só alguns bares ficam aberto nas noites das Laranjeiras e não posso mais ficar rodando pelas ruas durante a madrugada. Acabaria virando noticiário policial na internet. Por isso, continuo regulando minhas noites de sono pelo som da chave na porta. Tenho uma filha baladeira que me faz dormir por intervalos. E se acordo no meio da madrugada e vejo que ela não chegou fico a esperar sua presença através dos sons. É o elevador barulhento que para no andar, e, principalmente, o barulho da chave na porta. O "trinc" tem o poder de me devolver imediatamente o sono perdido e me preparar para a aventura da noite seguinte quando a Ana Luíza partir para curtir sua incontável legião de amigos que se espalham, para a minha angústia, por dezenas de lugares do Rio de Janeiro. Mas tudo voltará ao normal assim que eu escutar o barulho da chave na porta.

terça-feira, 2 de junho de 2009

No ar, antes de mergulhar

Eu faço parte daquela turma que começa a sofrer um mês antes de cada viagem de avião. Principalmente se for intercontinental como aquele vôo trágico da Air France. Não consigo dormir e nas longas horas em que o avião atravessa o oceano, eu faço a minha parte fiscalizando o barulho dos motores. É como se o fato de eu não dormir servisse para segurar o avião no ar.
Bem, não será mais um desastre terrível como esse que vai me fazer desistir de viagem. Primeiro porque muitas pessoas queridas só são alcançadas por via aérea e segundo porque nossas rodovias são piores do que qualquer caminho aéreo.
E ainda existe a fatalidade. Mário Vianna, famoso árbitro e depois comentarista de arbitragem de tempos remotos e que não se destacava pela lucidez de raciocínio costumava dizer que só conhecia duas aves que morriam de véspera: porco e peru.
Como não sou nenhum dos dois, sei que vou ficar por aqui enquanto for a vontade dos deuses que regulam a nossa passagem por aqui. Ainda quero voltar a Paris com a mesma expectativa feliz que deve ter cercado aquelas pessoas que viajavam naquele vôo. Muitos iam ver a cidade-luz pela primeira vez e espero que a luz da cidade mais encantadora que conheci possa iluminar quem mergulhou nas profundezas do oceano. Espero que tenham chegado ao outro destino brilhando mais que a torre Eifel na véspera de natal.

sábado, 23 de maio de 2009

Um sábado de outono

Sábado de manhã, céu azul e sol frio. O Rio fica mais bonito no outono e me dá uma vontade danada de me sentir mais feliz. Vontade de pegar um avião. dar um pulinho em Recife, dar uma passada no Caju pra ver a minha mãe, de preferência sem passar em Água Fria e sem aceitar tudo o que dona Anita me oferece porque estou de dieta e segunda-feira, se aparecer acima do peso vou levar uma esculhambação da dra.Mônica que, por sinal é magrela. Passava na Ilha do Retiro, revia minhas amigas/irmãs/camaradas e dava, é claro, um mergulho em Boa Viagem para tirar o azar. Quem sabe de la eu dava um pulinho a Paris, aproveitando o fato de quem ainda não esquentou e revia Mônaco, um lugar de sonhos apesar do pesadelo de barcos que eu não sou peixe pra andar na água. Enfim, sábado de folga, coisa rara na minha vida, e a esperança de ventos melhores para todo mundo , até para dona Dilma, vítima das armadilhas que a vida costuma pregar na gente a cada esquina. Sábado de sol, sábado de festa, quem sabe um sábado de amor ? Sábado onde eu queria ver minha mulher e meus filhos também mais felizes. E o Léo conseguindo enxergar um pouquito mais ? Parece pouca coisa pra se desejar ? Pra mim é muito. Mas se sobrar espaço pode vir a mega-sena. Não ficaria ressentido com essa surpresa.

domingo, 17 de maio de 2009

Quanto vale um afogado

As terríveis enchentes em alguns estados do nordeste trouxeram à tona( e vale a expressão) um dos problemas mais sérios que atinge essa turma sem vergonha que habita o planeta terra. Drama está intimamente ligado à geografia. Quando Santa Catarina foi inundada, choveram demonstrações de solidariedade da turma do sul-maravilha. A poderosa emissora global e suas coadjuvantes martelavam a população com pedidos de ajuda. Quando a desgraça pintou no nordeste baixou a indiferença. Afinal, que importância tem um nordestino afogado. Só agora, passados mais de 40 dias do início das chuvas é que começa um ligeiro movimento de solidariedade.
Fica claro que um afogado sulista vale mais do que 100 afogados nordestinos. O meu filho, João Henrique, já tinha comentado que um americano morto causa mais lamentação do que mil árabes ou dez mil africanos. Infelizmente nós somos assim. E se trouxermos a história para âmbito regional, sabemos bem que um assassinado no Leblon causa muito mais consternação do que 10 mortos em Inhaúma. É assim que a gente- mídia/sociedade/governo - mede a importância das pessoas. É assim que vamos perdendo a chance de melhorar como pessoa.

sábado, 9 de maio de 2009

Quero ser Paulo Gracindo

As pessoas se acostumam a deixar tudo por menos. Por acomodação, preguiça, medo, ou por outro motivo qualquer. Assim a gente concorda em receber menos do que acha que merece. Seja nas relações pessoais, seja no trabalho. O filósofo Charcinha, do alto da sua sabedoria popular, já disse numa entrevista que ninguém se considera burro ou feio. Mesmo que o seja para o resto da humanidade. Tudo isso me remete a Paulo Gracindo, objeto de um documentário feito pelo filho Gracindo Júnior e exibido nos cinemas de todo o Brasil. Ao contrário de outros atores famosos que vão aceitando cada vez menos à medida que o tempo passa, Paulo Gracindo foi protagonista enquanto teve forças para trabalhar.
É assim que todos deveríamos ser e nos sentir. Protagonistas das nossas vidas e não meros coadjuvantes a andar a reboque dos sentimentos/decisões alheias. Tem dia que encaro bem o papel de coadjuvante. Na relação com meus filhos, por exemplo. Sei que eles se acostumaram com minha forma de amá-los e com meus silêncios, preocupações e piadas cretinas. E consigo ate não ser o astro no trabalho desde que possa brilhar de outra forma e me tornar único diante das pessoas que formam o meu mundo profissional.
Mas tem dias que eu quero ser Paulo Gracindo. Ser protagonista em todos os meus passos e não aceitar nada que não caiba nas minhas medidas. Quero a atenção geral, todos os holofotes ligados e não apenas algumas falas marcadas. É isso que todas as pessoas merecem. E, eu também . claro.

Perdido no espaço

Dia desses descobri que eu tinha começado um blog em 2005. E que nunca foi adiante. Por desinteresse, preguiça ou porque não estava na moda. E revi meu texto de apresentação que poderia ter servido para o meu espaço atual. Mas acho que ainda vale a pena.

"No momento em que o tempo é livre e os pensamentos ainda estão presos, é hora de soltar os bichos para ver o que o que é dá. Este é um espaço para que as pessoas apareçam e compareçam. É tudo o que o espero. É quase tudo o que eu quero.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Ninguém no meu quadrado

Quando eu morava no Leblon, algumas pessoas que pegavam o ônibus em direção ao centro costumavam colocar suas bolsas ao lado para que o lugar só fosse ocupado em último caso. É como se tivessem direito a privacidade dentro de um coletivo. Achei que era um problema de comportamento elitizado mas depois vi que no metrô acontecia a mesma coisa. E até nos ônibus que cruzam a avenida suburbana a gente vê pessoas tentando impedir,ou torcendo para que ninguém sente ao seu lado. É um paradoxo. Todo mundo fisicamente junto mas espiritual e filosoficamente separados. E não é uma questão de classe nem de sexo. É individualismo mesmo, praga que algumas vezes, confesso, me pegou entre Inhaúma e Engenho da Rainha. Mas não acho uma atitude legal. Afinal quem não tiver vontade de andar ao lado dos outros, faça como a Angélica: vá de taxi. Ou vá a pé. Vai ver que vai ser mais saudável.

quinta-feira, 26 de março de 2009

A população de invisíveis

amiga de longos carnavais que um dia me chamou a atenção para as pessoas "invisíveis" que cruzam diariamente o nosso caminho. E quem são esses "invisíveis" que infestam o nosso cotidiano ? Eles estão espalhados por aí. É o porteiro do prédio, o ascensorista dos lugares que frequentamos, o vigilante do banco, o cobrador de ônibus, gente que cruza o nosso caminho mas que fazemos questão de não ver. A gente não sabe e nem quer saber se eles vivem bem ou mal, se sofrem dores no corpo ou se morrem de dores na alma.
Quando muito, damos um bom dia de uma forma tão seca que não permitimos que o interesse pelo ser humano se prolongue além do cumprimento.
Todos nós temos os nossos invisíveis embora o desejo de cada ser humano, inclusive o nosso, é de ser bem visível. Saímos de casa dispostos a chamar a atenção dos outros mas dificilmente prestamos atenção em alguém que não esteja vivendo dentro do nosso mundo. Um pouco de esforço para tentar ver um pouco daquela pessoa "invisível" talvez nos ajudasse a ser um pouco mais solidário com as pessoas que atravessam nossos caminhos e, quem sabe, tornasse a nossa sociedade um pouco melhor

segunda-feira, 23 de março de 2009

As amargas e perigosas balas de Copacabana

Ouvindo as notícias do tiroteio em Copacabana e Lagoa, o que mostra que o cerco está se fechando, eu penso: que vocação desgraçada tem o Rio para se auto-destruir. Como pode uma cidade, por mais maravilhosa que seja, resistir a Leonel Brizola, Moreira Franco, Garotinho, Rosinha, César Maia e Cezinha Maia, digo Eduardo Paes? A cada um deles no governo do estado ou prefeitura a cidade foi morrendo mais um pouco, se desumanizando, passando a ser maravilhosa apenas naquelas matérias babacas do RJ tevê de fim de tarde. É importante que a gente resista porque nem dá pra fugir daqui. As estradas estão péssimas, as barcas estão parando no meio da baía, o Sérgio Cabral não quer que a gente use o Santos Dumont e pra chegar ao Internacional tem que atravessar a sinistra Linha Vermelha. Ou seja, cada um que cave a sua trincheira porque as balas estão passando cada vez mais perto.

terça-feira, 17 de março de 2009

Os "olhos" de Léo

Quase todo mundo que me conhece, também conhece o Léo. Tal figura é um Lhasa Apso, extremamente bonito e afetuoso, qualidade aliás de quase todos os seus semelhantes. O problema é que Léo está ficando cego. A cada dia que passa enxerga cada vez menos, situação que me incomoda bastante mas certamente o incomoda muito mais. Ele não consegue mais ver seus amigos/desafetos com quem costuma cruzar nos passeios cotidianos, Cada vez que ele rosna para um desavisado tenho que explicar que ele não enxerga mais e reage instintivamente à presença dos colegas. Não gosto de ver a cara de pena das pessoas porque Léo tem se comportado de forma absolutamente digna. Tenta escolher seu caminho, por mais que não seja o melhor, e ainda corre com prazer. Às vezes penso se poderia ter feito mais para evitar que ele perdesse a visão e se aceitei muito fácil o diagnóstico de "irreversível".
Sei que agora eu sou e serei a cada dia, os novos olhos de Léo. Sou eu que terei de escolher os caminhos menos difíceis, evitar ar armadilhas cotidianamente jogadas no nosso caminho. Talvez nesse momento em que as pessoas mais próximas caminham cada vez mais com suas pernas e sem a necessidade da minha proteção e de meus conselhos, Léo passa a ser o alvo principal dos meus cuidados. Aquele que depende muito de mim. E ao contrário do que já aconteceu com tantas pessoas, sou humano, sou normal, espero não decepcioná-lo. E ser a luz que ele precisa para continuar enxergando no escuro.

domingo, 15 de março de 2009

O choque contra pobre

O chamado choque de ordem do novo(?) prefeito do Rio de Janeiro deveria se chamar "choque contra pobre". Afinal, a prefeitura só age quando sabe que os atingidos não tem poder de fogo para resposta. Então é fácil remover camelôs, sumir com sua mercadoria sem dar qualquer satisfação. Afinal, eles não tem quem lute por eles porque a classe média, ao mesmo tempo em que recorre constantemente aos seus préstimos para comprar bugigangas de toda a espécie, vira as costas para o fornecedor quando a barra fica pesada. Já vi guardas municipais "apreenderem frutas de um camelô" para ficar comendo dentro da Kombi. Acho que existem exageros no comércio de rua que precisam er contidos mas uma ação só é válida quando atinge a todos e não apenas uma parcela que não pode se defender, seja por desunião ou ignorância. E afinal, só vou começar a entender o choque de ordem quando os jogadores de frescobol e os mijões que poluem a cidade com sua má educação começarem a ser reprimidos. Até lá, não dá para levar nada a sério.

domingo, 8 de março de 2009

Falta de Educação

Costumo atravessar a cidade todo dia - De Laranjeiras e Inhaúma e de Inhaúma às Laranjeiras - há mais de três anos. Uso ônibus, metrô e eventuais caronas. E posso contar nos dedos as vezes em que ouvi as expressões "Por favor" e "obrigado" no meu trajeto. As pessoas estão cada vez mais ásperas no seu cotidiano. Cobrador de ônibus, então, é tratado como um sujeito absolutamente invisivel. Acho que não é por aí que se constrói uma cidade ou se melhora um país. O carioca cordial parece só existir para consumo dos telejornais globais. Quando as câmeras estão desligadas, cada um mostra a sua face. Cada vez menos preocupada com o destino/bem estar do outro.