domingo, 14 de junho de 2009

O som da volta

Poucas coisas têm me dado mais prazer nesta vida do que ouvir o barulho da chave na porta. Sei que este é um sentimento que deve ser compartilhado por milhares de pessoas que passam a vida esperando que alguém volte. Em todos os sentidos. E para quem tem filhos, ouvir este som é a melhor resposta que se pode ter para todas as dúvidas e inquietações que passam pela cabeça da gente neste desvairado mundo que a gente.
Eu sempre me acostumei a regular meu sono pela atividade noturnas dos meus filhos. Quando o celular não era um bem tão comum quanto relógio de pulso, costumava sair de casa às duas da madrugada no Leblon para tomar café no Fran em companhia de outros perdidos na noite enquanto João Henrique não chegava. Ou então, entrava no mercado 24 horas e ficava passeando entre prateleiras e olhando globais que faziam compras naquele horário para fugir da patuléia. E descobri que existiam outros tipos exóticos como eu certamente parecia aos olhos do porteiro do meu prédio.
Agora não moro mais no Leblon, só alguns bares ficam aberto nas noites das Laranjeiras e não posso mais ficar rodando pelas ruas durante a madrugada. Acabaria virando noticiário policial na internet. Por isso, continuo regulando minhas noites de sono pelo som da chave na porta. Tenho uma filha baladeira que me faz dormir por intervalos. E se acordo no meio da madrugada e vejo que ela não chegou fico a esperar sua presença através dos sons. É o elevador barulhento que para no andar, e, principalmente, o barulho da chave na porta. O "trinc" tem o poder de me devolver imediatamente o sono perdido e me preparar para a aventura da noite seguinte quando a Ana Luíza partir para curtir sua incontável legião de amigos que se espalham, para a minha angústia, por dezenas de lugares do Rio de Janeiro. Mas tudo voltará ao normal assim que eu escutar o barulho da chave na porta.

4 comentários:

  1. Sabe, Carlinhos, eu já li alguns artigos sobre pais preocupados com filhos que saem à noite e suas formas de esperar sua chegada. Este, com seu humor e sua sensibilidade foi o que mais mostrou o que se passa lá dentro mesmo daquela pessoa que espera. É isso aí: quem tem filho passa por tudo que voce falou, cada um à sua forma; mas é assim mesmo.
    Parabéns por descrever tão bem o sentimento de quem tem filhos nesta fase de vida!

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  2. Você descreveu direitinho o que eu sinto a cada noite, nos fins de semana. Sómente o clic da chave na fechadura restabelece a paz dentro da gente... E pensar que durante tantos anos foi a minha mãe que se sentiu assim, me esperando voltar das baladas, mesmo quando a violência era bem menor do que agora. Mas, fazer o quê? Só esperar, torcendo a cada noite pelo bendito clic.

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  3. Carlinhos,
    Só hoje soube do seu blog. Rosário me avisou por e-mail. Acessei e li tudo, de enxurrada, desde a primeira postagem. Me vi em tudo que você escreveu, parece que foram as minhas mãos e meus sentimentos que construíram cada frase. Deus te abençoe, por essa capacidade maravilhosa.

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  4. Talvez por te ter por perto para pensar na chave na porta, nunca me preocupei com isso. Não nessa dimensão. Filhos, no entanto, são sempre fonte de preocupação e do olhar atento do amor. Das coisas - muitas - que admiro em você, o amor cuidadoso é uma delas. bjss

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