quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Cordialmente falando

A cena se repete todo dia. Mal entro no ônibus ou no metrô, observo que pessoas colocam bolsas ao seu lado para impedir que outros sentem ao seu lado. Muitos fingem estar dormindo na esperança de que mesmo que o veículo fique lotado as pessoas se constranjam e não exerçam seu direito de sentar.
Não existe classificação de sexo ou faixa etária para este tipo de comportamento que vai de encontro ao que nossos pouco criativos telejornais regionais vivem a proclamar: a cordialidade do carioca.
Cordial pra mim é corda no varal. Aqui eu vejo gente que é incapaz de cumprimentar porteiros, cobradores de ônibus como se eles não existissem. Onde moro, tem umas figurinhas carimbadas que são incapazes de um sorriso e um bom dia quando encontram um vizinho de tanto tempo mas que demonstram sua falta de paciência com a vida quando cruzam com meu simpático cachorro, este sim, bem mais cordial do que o mundo que o cerca.
Voltando ao ônibus, quando vejo alguém tentando ocupar dois lugares eu sempre tenho vontade de perguntar: comprou duas passagens? mas acabo seguindo meu rumo e quase sempre procurando um lugar onde caiba apenas uma pessoa. Afinal, acham que eu ficaria imune ao mundo que me cerca?
Dia desses, um motorista do ônibus que me levava para Inhaúma(lugar pequeno e indecente) que esperou dois minutos por um passageiro que ele não tinha visto de primeira e acabou passando do ponto. Ao subir, o indigitado ao invés de agradecer pela esperada, passou a xingar o motorista para espanto geral.
O motorista nada falou, mas pensei que aquele "tiro" na sua boa vontade estava "matando" mais uma pessoa cordial no Rio de Janeiro.

E se nossos governantes municipais raciocinassem, eles transformariam o tal "choque de ordem" em choque de educação. Talvez assim a nossa realidade ficasse um pouco mais amena.
Boa viagem pra vocês.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Não põe corda no meu bloco

Nos bons tempos em que o semanário O Pasquim circulava, o cronista Paulo Francis escreveu que estava ao lado do povo politicamente mas que fisicamente queria distância. Adotei o lema porque multidões sempre me intimidaram. Deve ser por isso que eu abomino o Flamengo e a horda desvairada que o segue. E também deve ser por isso que detesto qualquer manifestação carnavalesca. Galo da Madrugada, por exemplo, só pela televisão e bem longe. Temo que aquela enchente humana se esparrame pela tela e acabe desabando na minha casa.
Por isso cada carnaval que se aproxima é um drama. Moro em um lugar que é frequentado por nove entre dez blocos que circulam pelo Rio de Janeiro. E como os blocos estão concentrados na zona sul, desagua gente de toda cidade para acompanhar a batucada. Quando a turma volta para casa deixa um rastro comparado ao de Átila, o rei dos hunos. É recipiente de lixo demolido a pontapés, cacos de garrafas de cerveja desafiando pés incautos, o direito de ir e vir inteiramente desrespeitado e uma montoeira de lixo que atesta a falta de educação dos nossos cidadãos.De todas as classes, lembro.
É por isso que eu quero preparar minha rota de fuga o quanto antes para evitar que os blocos me peguem. Pensei até, como último recurso, me incorporar a uma dessas vigílias religiosos, mas corro o risco de ser atropelado por um bloco de fanáticos mais nocivos do que os do carnaval. O pior é que o tempo está passando e acho que só vai me restar ma transferir para Inhaúma, subúrbio onde eu trabalho. Como até os inhaumetes vão procurar os blocos perto da minha casa, uma solução pode ser me abrigar no meio do complexo do alemão. Só existe o perigo de que de uma forma ou de outra, mesmo longe dos blocos, eu acabe dançando.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Foi por medo de avião....

Tomando emprestado e adaptando uma frase de Nelson Rodrigues sobre as mulheres, eu diria que "todo mundo tem medo de avião, só os neuróticos desmentem". Eu sempre acho engraçado quando as pessoas dizem que se sentem absolutamente tranquilas a dez mil pés de altura encarando o "doce" balanço do ar.
No começo, eu também não tinha receio de voar. Era absolutamente irresponsável. Já viajei o dia inteiro em avião de paraquedistas com bancos do lado quando minha família trocou Recife por Brasília apenas com o sentimento de curiosidade. E fui do Rio a Manaus em avião da Fab que fumaçava na chegada e na partida. Eu era demente e não sabia.

Só passei a descobrir que tinha espírito de formiga e não alma de águia depois que meus filhos nasceram. Aí é que eu passei a reparar em barulho de motor, cara de comissário/aeromoça e qualquer movimentação suspeita no corredor. Achava que iria fazer muita falta se o avião caísse. Acontece que João e Ana estão bem crescidos e tocam sua vida sem a minha interferência(só com minha torcida), e eu continuo a ter sensações desagradáveis quando embarco daqui prali e dali pra lá.
A verdade é que o pavor não me impede de viajar. Mas faço questão de entrar no avião com o pé direito para ver se isso ajuda a sair com os dois pés de lá. Não consigo ler nada durante o vôo porque fico mais concentrado nos avisos luminosos de atar cintos(desnecessário porque nunca os desato) e em relembrar toos os aeroportos situados, por exemplo, entre Rio de Janeiro e Recife. Eu sempre penso que é bem melhor uma aterrisagem forçada do que um mergulho no mar porque sei que de nada servirá aquela instrução de pegar a poltrona para usar como flutuador. Não vem ao caso já que estamos tratando de assuntos aéreos mas a natação também não é meu forte.
Enfim, não estou escrevendo para assustar os "medrosos" de plantão mas para dividir com eles o sentimento de que nós é que somos normais. Quem sobe de forma impávida e altaneira as escadas de um avião é que está precisando urgente de um tratamento.