domingo, 28 de junho de 2009

Eles estão entre nós

Sempre acho meio estranho quando alguém critica os políticos como se a gente não tivesse nada com isso. Como se os Sarneys, Zédirceus, Renans, Garotinhos e cia, tivessem vindo de outro planeta para ocupar senados,câmaras e outros redutos do poder em nosso país. Eles são gente como a gente embora parte da gente nada a tenha a ver com eles. Essa turma é produto da nossa sociedade. Eles são vizinhos de alguém e este alguém um dia votou neles para vereador. Talvez pensando numa retribuição ou, quem sabe, com boa intenção. Esse vereador foi galgando posições e se transforma em isso que a gente vê refletida nas páginas dos jornais e nos noticiários da tevê.
Assim como nossos representantes da justiça(?), eles são produto da sociedade em que vivemos. Acho que o Brasil tem melhorado muito nos últimos anos em relação à ética e às cobranças sobre o comportamento dos parlamentares, mas vai ser preciso muito tempo para que se mude a cultura do povo.
Quando vejo meninos/as de 15/16 anos, cujos pais pagam mil pratas de mensalidade no Colégio Franco/Brasileiro, roubando chocolates nas Lojas Americanas como se fosse uma grande diversão, eu sempre penso que aquela garotada tem todo o potencial para se transformar num político ladrão ou num juiz desonesto. Tudo começa numa brincadeira na prateleira e acaba nos bolsos dos contribuintes. São nossos vizinhos, nossos parentes, talvez, gente que a gente conhece começando a trilhar o caminho que a gente bem sabe onde vai levar.

domingo, 14 de junho de 2009

O som da volta

Poucas coisas têm me dado mais prazer nesta vida do que ouvir o barulho da chave na porta. Sei que este é um sentimento que deve ser compartilhado por milhares de pessoas que passam a vida esperando que alguém volte. Em todos os sentidos. E para quem tem filhos, ouvir este som é a melhor resposta que se pode ter para todas as dúvidas e inquietações que passam pela cabeça da gente neste desvairado mundo que a gente.
Eu sempre me acostumei a regular meu sono pela atividade noturnas dos meus filhos. Quando o celular não era um bem tão comum quanto relógio de pulso, costumava sair de casa às duas da madrugada no Leblon para tomar café no Fran em companhia de outros perdidos na noite enquanto João Henrique não chegava. Ou então, entrava no mercado 24 horas e ficava passeando entre prateleiras e olhando globais que faziam compras naquele horário para fugir da patuléia. E descobri que existiam outros tipos exóticos como eu certamente parecia aos olhos do porteiro do meu prédio.
Agora não moro mais no Leblon, só alguns bares ficam aberto nas noites das Laranjeiras e não posso mais ficar rodando pelas ruas durante a madrugada. Acabaria virando noticiário policial na internet. Por isso, continuo regulando minhas noites de sono pelo som da chave na porta. Tenho uma filha baladeira que me faz dormir por intervalos. E se acordo no meio da madrugada e vejo que ela não chegou fico a esperar sua presença através dos sons. É o elevador barulhento que para no andar, e, principalmente, o barulho da chave na porta. O "trinc" tem o poder de me devolver imediatamente o sono perdido e me preparar para a aventura da noite seguinte quando a Ana Luíza partir para curtir sua incontável legião de amigos que se espalham, para a minha angústia, por dezenas de lugares do Rio de Janeiro. Mas tudo voltará ao normal assim que eu escutar o barulho da chave na porta.

terça-feira, 2 de junho de 2009

No ar, antes de mergulhar

Eu faço parte daquela turma que começa a sofrer um mês antes de cada viagem de avião. Principalmente se for intercontinental como aquele vôo trágico da Air France. Não consigo dormir e nas longas horas em que o avião atravessa o oceano, eu faço a minha parte fiscalizando o barulho dos motores. É como se o fato de eu não dormir servisse para segurar o avião no ar.
Bem, não será mais um desastre terrível como esse que vai me fazer desistir de viagem. Primeiro porque muitas pessoas queridas só são alcançadas por via aérea e segundo porque nossas rodovias são piores do que qualquer caminho aéreo.
E ainda existe a fatalidade. Mário Vianna, famoso árbitro e depois comentarista de arbitragem de tempos remotos e que não se destacava pela lucidez de raciocínio costumava dizer que só conhecia duas aves que morriam de véspera: porco e peru.
Como não sou nenhum dos dois, sei que vou ficar por aqui enquanto for a vontade dos deuses que regulam a nossa passagem por aqui. Ainda quero voltar a Paris com a mesma expectativa feliz que deve ter cercado aquelas pessoas que viajavam naquele vôo. Muitos iam ver a cidade-luz pela primeira vez e espero que a luz da cidade mais encantadora que conheci possa iluminar quem mergulhou nas profundezas do oceano. Espero que tenham chegado ao outro destino brilhando mais que a torre Eifel na véspera de natal.